segunda-feira, 11 de abril de 2016

Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força (2015) - Como um Clássico Volta à Vida

Ok. Eu assisti Star Wars. E quase morri. Literalmente.
Esse eu tive que ver dublado e legendado. E sabe que a
dublagem ficou boa?
Como sempre faço quando assisto filmes no cinema, vou postar aqui a experiência, bem como minha análise. Esse texto vai estar CHEIO DE SPOILERS, então, se você não assistiu o Star Wars e pretende assistir, NÃO LEIA ESSA PORRA.

Bem. Antes de passar pro filme, eu queria dizer que assisto Star Wars desde meus dez anos, aproximadamente. Assisti na sequência cronológica (I, II, III, IV, V, VI), tendo inclusive assistido o III no cinema, e pego a hype que houve quando o III foi lançado.
Fui assistir junto com minha namorada (que assistiu comigo todos os filmes, pra poder me acompanhar), e mais um grupo de amigos, que tenho orgulho de dizer que eram um bando de nerdões tetudos. Estávamos todos hypados pra caralho. Fugimos de spoiler como o diabo foge da cruz, embora eu infelizmente tenha levado um bem na fuça.
Bom. Eu comecei a surtar e gritar em silêncio (sim, isso existe, e faço muito isso, que é basicamente eu ficar de boca aberta e começar a me contorcer sentado por não conseguir lidar com todo o ânimo, e fiz muito isso durante todo o filme) quando surgiu "Star Wars" na tela, com aquela música de abertura que arrepia.
Percebi que J. J. Abrams é um cara realmente esperto: ele pegou o que havia de melhor nas duas trilogias, e juntou em um filme só. Da trilogia antiga, ele pegou o ritmo: um filme envolvente, com reviravoltas e ação, e coisas acontecendo, e você acompanhando com adrenalina cada uma das atitudes dos personagens. Algo que ficou faltando na trilogia nova. E o desenvolvimento do plot do filme segue descaradamente a mesma fórmula do episódio IV, mas tratarei disso mais adiante. Mas por outro lado, da trilogia nova, pegou uma visão mais realista, nua, crua e bruta. Uma deficiência da trilogia antiga é o excesso de humor e coisas caricatas: a mira horrível dos stormtroopers sempre foi motivo de chacota e riso para os fãs de Star Wars, que acabavam por enxergá-los de maneira divertida, e não como realmente são. Soldados. Feitos pra matar. Logo na primeira cena, temos o Finn, um stromtrooper da Primeira Ordem, vendo um companheiro morrendo em seus braços, e mãos sangrentas sujando seu capacete. Isso acaba com toda a noção que temos dos stromtroopers como capangas atrapalhados, e mostra a guerra como realmente é. Fria e cruel. A trilogia nova faz isso de maneira melhor que a antiga, mas sinceramente, o episódio VII faz isso em um grau maior ainda.
Esse foi nota dez!
E, somado a isso, colocaram um terceiro fator: a nostalgia. Eu falei no início do texto dos meus "gritos silenciosos", e cara, como fã antigo de Star Wars, eu surtei dessa maneira com cada coisa que surgia na tela. Quando Finn e Rey estão fugindo, Rey sugere que peguem uma nave, Finn questiona ela sobre outra nave que estava lá, e ela diz que não, que é sucata. Mas no instante seguinte, a nave que eles iriam pegar é explodida, e Rey diz "Vamos pegar a sucata", e quando vão até ela, vemos que é A FUCKING MILLENIUM FALCON!!! Surtei durante mais ou menos um minuto antes de aquietar o rabo e voltar a assistir. E teve repetição disso a cada vez que algo dos filmes antigos surgia na tela: um Walker imperial atolado na areia; o raio trator pegando a Millenium Falcon; eles usando o piso falso; Han Solo e Chewbacca; Leia; C-3PO; R2-D2 desligado; e mais uma tonelada de coisas. Ou seja, foi uma enxurrada de nostalgia pra fã nenhum botar defeito.
Ritmo da trilogia antiga, realismo da trilogia nova e nostalgia: esses foram os três ingredientes para criar o filme perfeito.
O ritmo, como disse, era o da trilogia antiga, mas mais do que isso, o plot do filme era basicamente o mesmo do Episódio IV: um cara da Rebelião coloca informações cruciais em um droid, manda ele embora pra salvar as informações, o Lorde poderosão surge logo depois, o droid é encontrado por alguém que decide entregar as tais informações pra rebelião, aí encontram alguém que acaba atuando como uma figura de mentor, depois acabam dentro da base dos caras maus, eles tem uma arma foderosona que vai matar geral, o Lorde poderosão mata o mentor, eles fogem e a nova arma é explodida, concedendo uma vitória temporária pra rebelião.
A estrutura é a mesma. Mas há diferenças. Vamos lá.
Eu achei uma surpresa que ainda siga o esquema de rebelião x império, porque achei que Luke já tinha instituído a nova República, mas o caso é que Luke Skywalker ficou ausente e a Primeira Ordem, uma milícia sobrevivente do Império, tomou o poder, enquanto a Rebelião surgiu liderada pela Leia (que agora é tratada por General, e não princesa).
Como personagens principais, temos:
- Finn (sua identificação inicial era FN-2187, mas é chamado de Finn por Poe Dameron), um stormtrooper que, em sua primeira missão, vê os horrores da guerra e decide abandonar tudo, fugindo com a intenção de apenas viver em paz longe da Primeira Ordem, mas acaba tropeçando na Rebelião e se envolvendo com ela.
"Ó as cana, Finn, corre que nóis tamo fodido!"
- Rey, uma catadora de lixo do planeta Jakku ("POR QUE TODO MUNDO QUER VOLTAR PRA JAKKU?") que foi deixada lá pela família quando era pequena, e que está lá há espera da família por muitos anos.
- BB-8, o pequeno droid pertencente ao piloto Poe Dameron da rebelião.
- Kylo Ren, um usuário do Lado Negro da Força que serve a Primeira Ordem, e que depois descobrimos que é filho de Han Solo e Leia.
Cada um desses personagens é incrivelmente cativante. E por mais que a nostalgia faça com que surtemos ao ver Han Solo, Leia, C-3PO, não chega nem perto de eclipsar esses personagens, que tem potencial pra ficar firmes no nosso coração, tanto quanto os velhos personagens.
Finn é um personagem engraçado, porque apenas queria ir embora, viver em paz em algum canto, e acaba envolvido com a rebelião apenas porque, quando foge, acaba pegando carona com um piloto da rebelião, e mente dizendo que é da Rebelião apenas pra tentar fugir rapidamente. Em muitos momentos, age como um verdadeiro bundão, enquanto tenta se projetar como o fodão. Mas Finn, conforme o filme vai avançando, vai ficando cada vez mais bravo e corajoso, pronto pra ficar de pé pelo que acredita, e principalmente pela paixãozinha que começa a ter por Rey (suponho que stormtroopers não façam sexo, então os hormônios em fúria, e pá).
Rey também é outra heroína relutante: ela tem mais senso de dever que Finn, pois quer entregar as informações que estão em BB-8 (parte de um mapa para encontrar Luke Skywalker), mas no fundo, só quer voltar pra Jakku pra esperar que sua família vá buscá-la. Mas conforme o filme passa, fica mais claro que ela é sensitiva à Força, e ela vai percebendo que, no íntimo, estava apenas fugindo, pois sabia que a família dela nunca voltaria para buscá-la. Ela tem medo da Força, tem medo de se confrontar com isso, mas a partir do momento que decide usar isso, se torna incrivelmente badass. Isso me pegou de surpresa, porque eu achava que seria Finn que se tornaria um Jedi, mas Rey que demonstra ter um poder com a Força maior do que o de Kylo Ren, e isso significa muito, visto que Kylo Ren é filho de Leia, e portanto, neto de Darth Vader. Isso leva a teorias de que Rey é filha de Luke Skywalker, mas por ora, temos apenas isso: Rey é fodona.
BB-8 é simplesmente incrível. É impressionante como conseguimos ler as expressões e sentimentos de algo que, no fundo, é apenas uma bola com um disquinho em cima. Ele rola, ele se movimenta, e entendemos perfeitamente o que ele está dizendo, sentindo. Vemos BB-8 feliz, triste, animado, desconfiado, com raiva, curioso... e percebemos tudo isso mesmo que ele nem sequer tenha rosto. Tendo uma namorada fanática por Wall-E, percebi que BB-8 pega muita influência de Wall-E, inclusive com os sons, que são bem parecidos e únicos, diferentes dos usados em R2-D2. Mas, ao contrário de Wall-E, que acaba por imitar trejeitos humanos, BB-8 não tem olhos, não tem traços humanos, a não ser em momentos muito particulares (como quando ele mostra um pequeno maçarico virado pra cima pra retribuir o "joinha" que Finn tinha feito pra ele), e mesmo assim, faz você sentir empatia por ele e amá-lo.
"Era melhor na época do Império, a Estrela da Morte só matou
vagabundo! Palpamito!"
Kylo Ren é completamente diferente do que eu esperava. Eu esperava que ele fosse um Lorde Sith já consagrado, forte e convicto do poder do Lado Negro. Tanto que eu não desconsiderava a teoria de que ele era Luke Skywalker. Mas ao vê-lo, fiz uma ligação imediatamente: Zuko, de Avatar: A Lenda de Aang. Kylo Ren é filho de Han e Leia, que manifestou sinais de rebeldia, e para lidar com isso, foi levado a ser ensinado por Luke Skywalker, mas se rebelou e abraçou o poder do Lado Negro, se inspirando em seu avô, Darth Vader. Kylo Ren é inegavelmente poderoso: logo em sua primeira cena,ele consegue parar no ar UM TIRO DE BLASTER. ELE PARA LUZ USANDO A FORÇA. Durante todo o filme, fica claro que sua capacidade com o Lado Negro é incrível, sendo capaz de entrar na mente das pessoas e extrair qualquer informação. E sua intuição também é extraordinária: ao ouvir que um stormtrooper havia ajudado um prisioneiro escapar, imediatamente entende que era FN-2187, o stromtrooper que ele viu hesitar ao tirar a vida de civis inocentes. Porém... Kylo Ren, no fundo, é apenas um adolescente revoltado e confuso. Ao tirar o capacete, é mostrado um rosto jovem. Em vários trechos, é mostrada sua indecisão, sua hesitação: em um trecho, seu mestre lhe diz que via sua inclinação para o Lado Luminoso da Força, e em outra, questiona a si mesmo, enquanto procura se inspirar em Darth Vader, diante de seu capacete destruído. Em seus momentos de frustração, liga seu sabre de luz e destrói tudo ao seu redor, não tendo a calma e a frieza normais dos Lordes Sith. No clímax do filme, quando seu pai Han Solo vai até ele e o chama pelo verdadeiro nome (Ben), e ele percebe que terá que matar seu pai, parece prestes a chorar, por não ter coragem de fazer o que é necessário, só tendo coragem pra fazer isso depois que oferece seu sabre de luz para Han, e o pai tenta pegá-lo. E posteriormente, quando vai lutar contra Finn, e posteriormente com Rey, pressiona um ferimento em seu ombro feito pela blaster de Chewbacca para que a dor o impeça de sentir piedade. Kylo Ren é um vilão a caminho de se tornar um anti-herói, indeciso e confuso, que faz coisas ruins enquanto se arrepende, e apenas decide não voltar atrás. E, como Zuko, acredito que terá sua redenção e seu desenvolvimento. É o personagem em quem mais deposito esperanças.
Fora tudo isso, há pequenos detalhes que tornam tudo ainda mais extraordinário.
No Episódio IV, quando o governador Tarkin destrói Alderaan usando a Estrela da Morte, a única noção real que temos de UM PLANETA INTEIRO SENDO DESTRUÍDO é Ben Kenobi falando que sentiu um distúrbio na Força. Aqui, a nova arma tem potencial para destruir não apenas um planeta, mas VÁRIOS planetas ao mesmo tempo, e faz isso extraindo toda a energia de um sol e passando-a através de um planeta. E quando os planetas são destruídos, vemos a população entrando em pânico ao ver a grande luz nos céus que anunciavam a morte. Antes, quando alguém era atingido por um blaster, era cortado por um sabre de luz, era tudo amaciado: eram armas de luz, que feriam e queimavam ao mesmo tempo, de modo que a explicação que davam é que as feridas cauterizavam instantaneamente. Mas aqui, não é assim. Pessoas sangram. Pessoas morrem. Pessoas sofrem. A realidade é trazida de modo brutal para o espectador.
"... Chewie, eu virei um Ben Kenobi contrabandista."
Em todos esses anos assistindo Star Wars, uma coisa que reparei é que o som que os sabres de luz fazem ao ser ligados é sempre diferente: há o próprio som para o sabre de luz dos Sith, o azul dos Jedi, o verde dos Jedi, etc. Mas o sabre de luz de Kylo Ren, sendo único (possuindo guarda-mão de luz), também possui um som único, nunca usado em outro sabre de luz. Aliás, a própria animação dos sabres de luz mudou: o sabre de Kylo Ren parece desprender fagulhas de luz, está tudo mais refinado do que antes.
Por coincidência (ou obviamente não), o local aonde Han e Kylo Ren conversam é muitíssimo parecido com o local aonde Darth Vader revelou a Luke que era seu pai: pontes luminosas com corrimões, abrindo para um precipício. Assim que entraram lá, imediatamente todos sacamos: vai dar merda.
Han Solo. Leia. Chewbacca. C-3PO. Poderiam ter sido colocados só pela nostalgia, mas está tudo lá. O jeito malandro de Han Solo, que não mudou nada após tantos anos. A firmeza impetuosa de Leia. A natureza perigosa e infantil ao mesmo tempo de Chewbacca, que em momentos parece um sidekick perigoso, e em outros, um bichinho adorável. O jeito tão formal que chega a ser cômico de C-3PO (que, mesmo após tantos anos, continua sendo a eterna vela de Han e Leia). Não estão lá só de enfeite. Tem a mesma essência de antes, mas evoluíram. E vieram pra ficar, mas sem eclipsar os novos heróis.
E, no fim... quando vemos o mapa de Luke sendo finalmente completo, e Rey partindo para encontrá-lo, e vemos o rosto de Luke Skywalker velho... temos o cliffhanger. A ansiedade pelo próximo filme.
Foi uma das maiores emoções que já senti. Quando o filme acabou, todos no cinema aplaudiram, mas eu não conseguia tirar os olhos da tela e aplaudia vigorosamente mesmo depois que todos haviam parado de aplaudir, e fiquei tão tonto e tocado de emoção que estava trêmulo, a tal ponto que tive que sair do cinema meio "carregado" por minha namorada e uma amiga, pois estava como que bêbado, por pura overdose de emoções, com os olhos arregalados e um sorriso de orelha a orelha no rosto, ora rindo histericamente, ora sem conseguir falar nada (tanto que, enquanto estávamos andando e estavam comentando o filme, só o que consegui dizer foi "Comentários racionais, só mais tarde"), só conseguindo me acalmar e me restabelecer depois de uns quinze minutos. E até agora estou atordoado. Minha namorada até falou brincando que estava um pouco enciumada, porque nunca tinha me visto reagir dessa maneira com ela.
J. J. Abrams está de parabéns. O Episódio VII de Star Wars pegou tudo que havia de melhor nos outros filmes, corrigiu os erros e criou uma excelente abertura. Talvez depois que me acalmar mais e a hype acabar, eu mude de ideia, mas nesse momento, sustento: o melhor filme de Star Wars que já assisti. Estava tudo incrível e perfeito.
Agora, só esperar o próximo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário