segunda-feira, 11 de abril de 2016

Batman Vs Superman (2016) - DC, faça filmes solos ou volte a fazer animações, por favor

Hello... is it me you're looking for...? (8)
Ok, estou de volta do cinema, e agora é a hora de mais uma análise do Bardo Maldito. O de costume: o
texto abaixo está cheio de spoilers, então leiam por sua conta e risco.

 Bom, pra começar, tenho que dizer que eu estava extremamente cético com relação à DC no cinema. Assisti O Homem de Aço e achei um filme completamente chato, do qual a única coisa que se salvava era Jor-El, que foi retratado muito bem. E com toda a frágil tentativa da DC de criar hype no público com uma tonelada de trailers, com Ben Affleck e Henry Cavill tentando imitar Robert Downey Jr. e Chris Evans, com marcas d'água pra fotos de perfil de Facebook (tentando imitar e não imitar a Marvel ao mesmo tempo, resultando em um marketing fraco, nem perto do que foi feito em Deadpool), eu senti como se a DC estivesse tentando conduzir o público pro filme dele. Como um comediante que começa a rir da própria piada na esperança que o público também ria (e essa é a marca de um péssimo comediante, diga-se de passagem).
Porém, decidi ir. Pelo menos pra poder criticar com argumentos.
E olha... agora tenho argumentos.
O início do filme é legalzinho. Mostra a história do nascimento do Batman (o assassinato do casal Wayne) de maneira legal. Único detalhe que não gostei muito foi insinuar rapidamente que Thomas Wayne tenha tentado reagir ao assalto, e por isso o assaltante atirou, mas tudo bem. Tirando isso, foi uma cena legal, principalmente com o colar de pérolas de Martha Wayne se arrebentando e se espalhando pelo chão, algo muito importante visualmente falando, tendo relação direta com as HQ's. A cena seguinte também é boa, com Bruce Wayne chegando em Metrópolis e vendo a destruição feita no final d'O Homem de Aço, com a luta entre o Superman e o General Zod, e as pessoas sofrendo com isso.
Acho que a partir daí que o filme passou a ficar chato.
Tipo, o filme aparentemente é um filme que segue três pontos de vista: o do Superman, o do Batman e o do Lex Luthor.
O Superman é o mesmo que revelou n'O Homem de Aço: um grande bobão sem muita noção do que acontece, e encantado pela Lois Lane. Inclusive, vale ressaltar que a Lois Lane está ainda mais “donzela em perigo” do que no primeiro filme, o que é péssimo, pois a Lois Lane sempre foi uma figura forte e independente, e aqui ela só se resume a correr atrás do Clark e chorar porque ele se arrisca ou porque as pessoas falam mal dele.
"Sua mãe é tão feia que quando ela taca um bumerangue, ele não volta!"
"Pelo menos eu tenho mãe! Otário!"
O Batman de Ben Affleck é um caso controverso. Eu posso dizer sem hesitar que a culpa não é do Ben Affleck: a interpretação que ele dá é perfeita pro Batman/Bruce Wayne. E visualmente falando, ele é perfeito tanto como Batman quanto como Bruce Wayne. Meu problema é: armas de fogo. Tipo, o Batman NÃO MATA, E NESSE FILME ELE LITERALMENTE APARECE MUITO MAIS VEZES ATIRANDO COM ARMAS DE FOGO DO QUE ATIRANDO BAT-RANGS! Não aparece atirando bat-rangs uma vez sequer, apenas é mostrado um bat-rang cravado na parede nas cenas que ele atuou! E ao contrário da crença popular, o Batman também não é um ditador fascista e cruel que oprime Gotham City: ele é envolvido com uma dezena de programas sociais, está sempre tentando mover os pauzinhos para ressocialização de presidiários (inclusive, já chegou a ajudar o próprio Bane, o cara que quebrou a coluna dele deixando-o paraplégico quase pra sempre), e nunca o vi recorrer a tortura pra obter informações, a intimidação com as palavras e a presença sempre foram suficientes, e tipo, no filme, ELE MARCA OS BANDIDOS QUE PRENDE COM FERRO EM BRASA! E antes que alguém venha argumentar sobre esse ponto, eu digo: eu sei perfeitamente que o Batman, em suas primeiras edições, antes da caça às bruxas do livro Sedução dos Inocentes, matava seus inimigos com armas de fogo. Mas o caso é que a questão da fidelidade não é referente ao que surgiu primeiro, e sim ao que definiu o personagem: ele pode ter sido concebido assim, mas foi mudando até adquirir uma imagem nova e muito mais forte, do morcego vigilante que não mata, não importa o que aconteça. E nesse filme, bem... ele planeja matar o Superman sem o menor remorso, apenas por achar que ele é poderoso demais pra ficar vivo.
E o Lex Luthor, ah, o Lex Luthor. Nesse caso, eu nem sei se a culpa é do roteirista, do Jesse Heisemberg, da minha avó pelada, ou de quem quer que seja. Só sei que, como Lex Luthor, ele é um ótimo Coringa. Nem estou falando de ele ter cabelo: estou falando dele ser um louco que fala bobagem ligado nos 220, com uma espécie de ironia debochada que lembra mil vezes mais o Coringa do que o Lex Luthor, que vale lembrar, sempre foi o maior inimigo do Superman, mesmo sem ter super-poderes. Ele dá a impressão de ser um bobo aleatório hiper-ativo, ao invés do grande planejador e manipulador cheio de classe das HQ's. E quando ele confronta o Superman, a impressão que dá é que ele tá quase mijando nas calças. Só falta ele lançar uma gargalhada insana. E o pior? Ele só vai enfrentar o Superman porque o pai dele batia nele, e isso fez ele se questionar se Deus existe, e o Superman é equivalente a um deus. Ou seja: alguns adolescentes viram ateuzinhos raivosos, outros crescem e viram vilões loucos e bestas.
"Why so seri... ahn, digo, sabe qual a mentira mais velha da América?"
Bom, esses três núcleos vão compondo o filme. E de maneira chatíssima: todo o filme lembra você o tempo todo “ó, Superman e Batman vão tretar”, como se o título do filme já não fosse suficiente. Tem aqueles lances políticos, de se o Superman deveria ser controlado pelo governo ou não, mas isso é tudo colocado de maneira maçante e não muito aprofundada: tanto que, quando tava todo mundo se dividindo em #teambatman e #teamsuperman, eu não me posicionei, porque não sabia como o filme trataria desse conflito, mas mesmo agora não sei me posicionar, porque a impressão que dá é que eles só lutaram porque tinham que lutar. E de maneira literal, foi isso: o Batman, paranoico como é, tava crente que o Superman era uma ameaça e se preparou pra matar ele, e o Lex Luthor sequestrou a mãe do Superman e o chantageou, falando que a mataria se ele não matasse o Batman. Mas conflito de ideias, toda a coisa que podemos deduzir só com dois trailers de Guerra Civil (eu mato o primeiro que vier falar que Guerra Civil é só Steve indeciso entre ficar com o Bucky e o Tony, porque só por trailers dá pra sacar muito mais que isso pra qualquer um com um mínimo de inteligência)? Nada. O filme não carrega nada disso. Se carrega, transmite de maneira porca. E se transmite, tudo deixa de valer depois, o que nos leva ao próximo item que merece até uma quebra de parágrafo.
Bem, mesmo que não tenha visto o filme, você com certeza sabe que o Batman e o Superman fazem as pazes porque as mães dos dois tem o mesmo nome (Martha Kent e Martha Wayne). Eu achei que tinha sido um exagero, que tinha mais coisas por trás disso. EU ESTAVA ERRADO. Tipo, literalmente, o Batman tá com o Superman drogado de kryptonita, com uma lança com ponta de kryptonita prestes a cravar no peito dele, aí o Superman fala “Se você me matar, ninguém vai salvar Martha”, e o Batman fica em choque e pergunta furioso “POR QUE VOCÊ FALOU ESSE NOME?!”, Lois Lane surge e fala que é o nome da mãe dele... e o Batman joga a lança fora e fala que vai resgatar Martha. E quando ele a resgata, diz “sou um amigo do seu filho”. Ou seja... todo o lance dele ser poderoso, perigoso, de ele ter perdido amigos em Metrópolis, de um funcionário dele ter ficado paraplégico, de não poder ser controlado, tudo isso é o de menos, porque ele tem uma mãe e ela se chama Martha, então isso obviamente resolve tudo e eles viram BFF. Sério. Patético assim. Merece que zoem.
A luta em si também não foi lá essas coisas, apesar de 90% do filme ter girado em torno de fazer esse momento acontecer. Dá pra resumir em: Batman joga kryptonita, Lex Luthor e Coringa roubam o laço da Mulher Maravilha, Superman fica fraco, Batman surra ele, aí o efeito da kryptonita passa, o Batman apanha um pouco, aí renova a dose e bate no Superman, se prepara pra matar ele, e rola a cena citada. Sério.
Bom, depois disso o filme melhora consideravelmente. Porque Lex Luthor solta o experimento do mal que tinha feito pra lançar contra o Superman, que é ninguém menos que o Apocalypse (criatura que é basicamente um Hulk espinhoso que mata o Superman na saga A Morte e o Retorno do Superman). E aí, entra em cena Diana Prince, a Mulher Maravilha.
"Só vim roubar a cena e mandar beijinho no ombro pros recalcados."
Ela merece todo o amor do mundo, porque ela roubou a cena lindamente. Sério, pau no cu do pessoal que tava de hate com a Gal Gadot porque ela fez Velozes e Furiosos: ela tá impecável e poderosa. Até esse ponto, ela só aparece em identidade civil, se metendo no caminho do Batman quando este estava investigando o Lex Luthor como Bruce Wayne. Mas quando coloca a armadura, pega a espada e o escudo... ela vai pra porrada com o Apocalypse e quebra ele de maneira linda. Destrói, faz comentários de orgulho guerreiro, demonstra força de vontade, independência e empoderamento feminino. Sério, adorei ela. Boto muita fé num filme da Mulher Maravilha.
O Apocalypse é meio meh. Tipo, ele é visualmente bizarro, parece uma mistura de Hulk com os trolls de O Senhor dos Aneis. Mas um ponto forte dele é que, como nos quadrinhos, ele evolui. Quando leva dano, ele fica mais forte, mais poderoso. Aí, conforme a luta vai avançando, ele cria espinhos, dispara raios pelos olhos e pela boca, causa explosões de trovões quando se mexe, e várias coisas assim. O Apocalypse das HQ's não era bem assim, mas pelo menos foi fiel ao conceito do personagem.
Agora, pequenos detalhes... outro ponto negativo é que as ideias não são muito bem transmitidas. Tipo, em algum ponto durante a luta contra o Apocalypse, o Superman chama o Batman de “Bruce”, quando não tinha dado nem sequer dica que ele sabia a identidade secreta. E depois, o Batman, sozinho no bat-jato dele, conclui que o melhor jeito de matar o Apocalypse é com a lança de kryptonita que ele ia usar pra matar o Superman, e bem, cinco minutos após isso até a Lois Lane sabe desse plano, sem ele ter contado pra ninguém. Errinhos bestas, mas que acho importantes.
"Estou roubando a cena de novo"
Flash, Aquaman e Ciborgue também foram apresentados, mas beeeeem de passagem: vemos vídeos curtos dos três entre os arquivos do Batman. Com isso, podemos ter uma pequena prévia, mas pra ser sincero... achei desnecessário. Espremeram lá só pra colocar participação, mas ficou demais pro filme. Apressado demais. Tipo, o que eles fizeram seria a mesma coisa que a Marvel ter lançado o primeiro Homem de Ferro, ele ter tido uma repercussão apenas média, e logo em seguida lançar Vingadores. Sendo que que cada um dos filmes solo foi necessário pra compor 100% o universo dos Vingadores. Tipo, é possível curtir ele individualmente, mas vendo os filmes solo se nota como tudo foi sendo construído aos poucos. Já a DC, simplesmente faz um filme solo do Superman (com repercussão ruinzinha), e daí PIMBA, lança um filme com Batman, Superman, Mulher-Maravilha e close/referência de Flash, Aquaman e Ciborgue.
Corrido demais.
Em resumo, o filme no geral foi ruinzinho, mas necessário. Teria sido melhor se tivessem feito os filmes solo antes. Nessas condições, saiu um filme que, bizarramente, consegue se corrido e tedioso ao mesmo tempo, com poucos pontos altos (a Mulher Maravilha e o carinha tocando gaita de foles perto do final foram os únicos inquestionavelmente legais, na minha opinião), mas sem saber se copia a Marvel ou tenta fazer diferente, sem saber se é fiel às HQ's enchendo de easter eggs ou as distorce fazendo Batman usar metralhadoras. Filme indeciso. Confuso.
Mas agora já passou. Que venham os filmes solo. Mas ainda permaneço cético.

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