Vem a mim... só a mim... confiar... somente em mim... |
Bom, antes de começar, tenho que esclarecer que, além de gostar muito do filme (que, como muitos, também vi muito na infância), também adoro O Livro da Selva de Rudyard Kipling, a obra original que inspirou o desenho (que, além da história de Mogli, tem várias outras histórias, como A Foca Branca e Rikki-Tikki-Tavi). Porém, como vi uma vez nos comentários da versão em DVD, quando foram fazer o desenho, perguntaram pra equipe quem já tinha lido O Livro da Selva, ninguém tinha lido, e responderam “Ótimo, não leiam. Vamos fazer nosso próprio Livro da Selva.”. Ou seja, acreditem, o filme não tem NADA a ver com o livro (no livro, Baloo era o instrutor da alcateia do Mogli, o Mogli não gostava dele porque apanhava dele, Kaa era amiga do Mogli, Shere Khan era manco e covarde, e o Mogli matava Shere Khan fazendo ele ser atropelado por uma manada de búfalos após ter saído da selva pra ir viver com os homens). Então, eu fui pro cinema ansioso por uma boa adaptação, mas não esperava ver muito do livro.
Mas me surpreendi. E de maneira muito positiva. Tanto que o título dessa review não é nem um pouco à toa.
O filme pega pontos surpreendentemente legais tanto do livro como do desenho. Coloca referências que passam despercebidos pra quem não leu o livro, mas que fazem o coração de quem leu. Ao contrário de Batman Vs Superman, que colocou trocentas referências que tornam o filme até confuso pra quem não lê quadrinhos, aqui são easter eggs e personagens, que tornam o filme divertido pra quem não leu o livro, e quem identificou se sente bem. Por exemplo, dois personagens que não aparecem no desenho são Ikki, o porco-espinho, e Chil, o abutre. Mas aparecem ali. Ikki era um personagem terciário do livro, que todo mundo conhecia e achava um chato, e no filme ele aparecia como um elemento cômico terciário, e nem sequer falam seu nome. E Chil, que no livro foi responsável por contar a Baguera e Baloo aonde os macacos haviam levado o Mogli, aparecia voando e espalhando as grandes notícias para a selva. Referências que me fizeram bem feliz, como leitor do livro.
Veja o lado bom, Shere Khan. Se isso fosse como no livro, você saberia exatamente como Mufasa se sentiu, e teria sua pele arrancada. |
Mas bem, a história em si. A história se afasta um bocado tanto do desenho como do livro, criando uma fusão agradável, mas com elementos únicos. Aqui, Shere Khan planejava matar Mogli não apenas por odiar os humanos, mas porque havia perdido um olho quando atacou o pai de Mogli, e desejava vingança. E a história tem um lance legal logo no início, em que aparece a clássica cachoeira da primeira cena do desenho, nos levando a crer que a introdução será exatamente a mesma, mas imediatamente vemos Mogli correndo já crescido junto com seus irmãos lobos.
Eu assisti o filme dublado (infelizmente, o único horário legendado era às 21h30, impossível pra mim e pra minha namorada), então não posso julgar 100% a interpretação de Neel Sethi, o garotinho que faz o Mogli. Mas pelo que posso interpretar pela expressão facial e corporal dele, já temos um saldo muito positivo. Ele é surpreendentemente expressivo, e faz exatamente o Mogli que conhecemos tanto do livro como do desenho: um pirralho chato e até um pouco mimado. Destemido, mas até um bocado inocente (embora o do filme seja um pouco mais esperto). Tem uma cena em que Mogli está caminhando pela selva com Baguera, discutindo com ele sobre não querer ir viver com os homens: Shere Khan havia ameaçado atacar a alcateia pra pegar Mogli, então ele abandonou os lobos por vontade própria, mas não entendia por que deveria deixar a selva, não entendia o motivo de não poder viver com os mangustos, os búfalos, ou quaisquer outros animais. E ficava tagarelando bem do jeito que criança faz “Ah, por que eu não posso? Não é justo! Você disse isso, você disse aquilo, eu não quero, quero ficar aqui...”. Mas sobretudo, se nota que ele não é só uma criança fracote: o livro deixava isso bem claro, que Mogli podia ser fraco em comparação aos outros animais da selva, mas que, comparado aos homens, era forte como um touro, e o filme mostra isso muito bem. Por exemplo, em certo momento, junto com Baloo, Mogli vai ajudá-lo a pegar colmeias, e
"Olha, Baloo! Estão escrevendo sobre mim! O que estão falando?" "Sei lá, menino. Sou um urso, não sei ler." |
Por outro lado, não achei exatamente negativo pro filme, porque entendi a proposta, apenas não gostei muito de um detalhe: Mogli, no filme, é uma espécie de “faz-tudo”, ele cria pequenos artefatos com cordas, ramos, cascas, pra se virar na selva, por ser pequeno e fraco. O do desenho não era assim (mas por outro lado, era apenas um moleque fracote e indefeso), e o do livro também não (quando muito pequeno, sobrevivia explorando a Lei da Selva, e quando crescido aprende a usar o fogo e a astúcia em planos, em vez de traquitanas improvisadas). Já havíamos visto algo assim em Tarzan 2 (filme que também não curti muito), e aqui, a mesma fórmula se repete. Não digo que é algo negativo, apenas não foi do meu agrado. Mas foi uma bela inovação. Ponto pro filme. O personagem Mogli ficou perfeito, acertando na mosca entre o Mogli do desenho e do livro.
"E aí, Baguera? Are you a boy or a girl?" |
Agora, Baloo. O Baloo é 100% o do desenho, sem a menor influência do livro. O do livro não lembra em nada o vagabundo preguiçoso e comilão do desenho, sendo mais pra um professor rude e meio bruto (o que faz com que Mogli acabe pegando raiva dele, porque apanhava do urso quando não aprendia direito as lições). Mas no filme... tornaram ele mais vagabundo, mais preguiçoso e mais malandro ainda. Tipo, ele salva o Mogli da Kaa, e pede pra que ele o ajude a pegar uma colmeia pra comer mel, e se interessa pela habilidade de Mogli com seus truques, enxergando como uma maneira fácil de conseguir comida, e acaba propondo que Mogli o ajude para que hiberne durante o inverno (o que deixa Baguera furioso depois, pois ursos da selva não hibernam, ao que ele só responde “ok, eu não hiberno, mas eu durmo muito”). E o melhor: mantiveram a icônica música “Somente o Necessário”. E casou perfeitamente bem com o filme: Baloo diz que gosta de cantar, e Mogli não entende, pois na alcateia eles não cantavam (o que não é exatamente verdade, até porque uma das músicas que vem em anexo com o livro é a Canção de Caça da Alcateia Seeonee, mas deixemos isso de lado), então Baloo o ensina a cantar e aproveitar a vida. E o jeito paternal de Baloo aflora depois, sendo representado, por exemplo, quando ele escala um precipício pra salvar o Mogli mesmo tendo medo de altura (razão pela qual pediu pra Mogli pegar a colmeia, anteriormente). Novamente, acertaram certinho.
E, no núcleo principal, pra finalizar, temos Shere Khan. Shere Khan é, juntamente com Mogli, a maior fusão
"JÁ VOU MOSTRAR QUEM É MANCO!" |
O roteiro do filme, como eu disse, é essencialmente o do desenho, mas em uma pegada mais adulta e com referências do livro: e com a diferença que a história vai e volta de maneira diferente do desenho. Pegaram o roteiro do desenho, cortaram em partes, e mudaram a ordem dos eventos pra uma melhor conexão. Mas, no geral, é muito bom. Ponto negativo é que aqui, ao contrário do desenho, Mogli fica na selva, vivendo como um homem (com suas traquitanas, uma espécie de Tarzan, um homem, mas ainda parte da alcateia de Seeonee), o que descartou um excelente ponto: o modo como Mogli é um pária aonde quer que vá. No livro, ele é expulso da alcateia Seeonee por ser homem, e mais tarde é expulso da aldeia dos homens por ser lobo, e acreditarem que ele é um bruxo, e a partir desse momento ele passa a caçar sozinho na selva, acompanhado apenas de seus irmãos lobos, que insistiram em ir com ele. Ou seja, em todos os casos há uma resposta diferente para a pergunta “Mogli é um homem ou um lobo?”. No desenho, a resposta é “um homem”; no livro, a resposta é “é um pária”; e no filme, a resposta é “é um homem no meio dos lobos”. Ficou muito Tarzan. Acho que fizeram isso porque, apesar da pegada adulta, é um filme infanto-juvenil: então, um final feliz é a melhor solução. Mas o potencial pra algo mais adulto que pegasse esse aspecto do livro seria excelente. Novamente, é uma crítica mais pessoal, mais relacionada a meu gosto: eu certamente não iria querer que pegassem tudo do livro apenas por gostar mais do livro, tanto que gostei bastante do Baloo, mas esse aspecto em particular poderia ter sido mais sério e maduro em um filme mais adulto. Mas bem, é um filme infanto-juvenil, não vamos reclamar.
Bom, agora falando sobre todos os personagens secundários:
"Pode confiar em mim, filhote de homem. Tenho a voz da Viúva Negra." |
Rei Louie, o rei dos macacos. Quanto a esse, não há discordância: ele simplesmente não existe no livro, pois os Bandar-log (nome do povo dos macacos) é um bando de animais sem lei, que nem sequer são disciplinados o suficiente para ter um líder. Mas em comparação com o do desenho: se afastou completamente, mas de maneira boa. Lembra bastante um líder da máfia, é bem semelhante ao Rei do Crime da série do Demolidor, mostrando aquela grande figura idosa e sábia que transpira perigo, e que acima de tudo, vai fazer o que for necessário pra conseguir o que quer (no caso, quer de Mogli o segredo pra obter a Flor Vermelha). Mas algo BEM negativo é que colocaram também a música que ele cantava no desenho (“O rei do iê-iê-iê”), o que devo dizer que não combina nem um pouquinho, pois a música é apenas alegre e despreocupada, quando a impressão que o grande macaco dá é toda, menos essa. E nem sequer cativa pelo paradoxo, não soa como ironia cruel ou algo assim: soa apenas estranho e sem combinar. E também é cantada no fim do filme, durante os créditos. Resumindo: perfeito, mas por favor, tirem essa música.
Raksha, a mãe do Mogli, transpira perigo e força de uma mãe protegendo seus filhotes no início do filme. No livro, ela chega a intimidar Shere Khan, ao eriçar os pêlos e rosnar dizendo que protegeria a cria humana por seu nome (“Raksha” significa “proteção” em indiano, mas também é semelhante a “Rakshasa”, que significa “demônio”). E no início do filme, corresponde a isso, mas perde isso conforme o filme vai prosseguindo, passando a ser muito mais uma figura de medo do que de poder e proteção. Aqui também entra Irmão Cinzento, o irmão com quem Mogli tinha mais compatibilidade, que permanece como filhote o filme inteiro e serve apenas pra chamar Mogli à razão ao demonstrar medo dele vendo-o com a Flor Vermelha. No livro, ele é um dos que ajudam Mogli a completar seu plano contra Shere Khan, levando notícias quando o irmão se retira para a aldeia dos homens. Ambos os casos, personagens interessantes que poderiam ter tido mais potencial (eu esperava que Irmão Cinzento crescesse durante o filme, pois no início do filme chamam a atenção para o fato de que os lobos cresciam muitíssimo mais depressa que Mogli). Meio desvalorizados, mas nada de muito grande.
Akela, o chefe da alcateia Seeonee. Esse é um caso que me decepcionou completamente. Não apenas
"Sou um homem ou sou um lobo?" "Você é o Mogli." |
Bom, no geral, posso dizer que o saldo foi bem positivo. Tem seus defeitos, como alguns personagens que poderiam ser mais aprofundados (seguindo o livro ou não), mas no geral, é o melhor do desenho e do livro, que são completamente diferentes, mas se juntaram em harmonia para esse filme. É isso aí, Disney, troféu joinha pra ti.
Meu filme favorito sempre foi Mogli o menino lobo. Já tinha visto algumas boas críticas, mas o vi recentemente e realmente me surpreendeu. Foi uma grande surpresa de animação. A história é muito divertida e original, pelo mesmo, tanto crianças como adultos podem desfrutar dele. O que mais me surpreendeu foi a dublagem de Idris Elba como Shere Khan por que é um bom ator, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. Seguramente o êxito de novo filme de Idris Elba, deve-se a auas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. No resultado uma surpresa ao ver que o filme funcionou de forma maravilhosa. É uma produção espetacular, desfrutei muito.Adorei como fizeram a historia por que não tem nenhuma cena entediante.
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